Homilia do 1º.
Domingo do Advento – Ano A
Iniciamos o Tempo do Advento: tempo da
vinda do Senhor. As velas acendidas a cada Domingo serão um convite para que
nossa esperança brilhe em meio às trevas. O Senhor já veio, o Senhor vem a cada
dia, o Senhor virá... Portanto, nossa vida é preenchida de sentido. O Advento
alimenta o nosso coração com o combustível da esperança.
A oração da coleta nos convida para
que “corramos ao encontro do Senhor que vem”. Onde está este Deus vindouro? Ele
está no nosso cotidiano. Antes de procurarmos a Deus nos acontecimentos
extraordinários, devemos percebê-lo nos fatos mais corriqueiros da nossa vida.
Em cada novo desafio, nas oportunidades novas, nas dores, nas alegrias, em cada
nova pessoa que surge diante de nós está o Deus que vem. O advento é todo dia,
é cada momento. Advento é deixar Deus existir no nosso dia a dia, é abrir-se
para que Ele esteja presente.
O Evangelho nos convida à vigilância.
Isto porque o Senhor virá – eis a mística dos dois primeiros domingos do
advento: preparar-se para a vinda do Senhor na glória, preparar-se para a vinda
do seu Reino glorioso. Vigilância significa ter presente a importância da vida,
ou seja, não podemos conduzir a vida no improviso, pois o que realizamos aqui e
agora tem consequências eternas. Não sabemos quando o Senhor virá, não sabemos
quando nossa vida terrena terá o seu fim, por isso, devemos aproveitar cada
minuto. O tempo é bem aproveitado dependendo de nossas opções, de nossas
escolhas diante do mistério da vida. Nossas escolhas nos distinguem, por isso,
“um será levado e outro será deixado”.
O Evangelho nos fala de duas situações
que compõe o cenário da vinda do Senhor. Primeiramente, muitos estarão como
“nos dias de Noé”, ou seja, entregues aos prazeres da vida. Depois, estarão
ocupados com o trabalho do campo e com a moagem do trigo, ou seja, atarefados
com os afazeres da vida. Aqui contém um alerta interessante: não podemos fazer
da nossa vida um misto de busca de prazeres e de afazeres a serem cumpridos.
Não seria esta dualidade medíocre a tônica da vida de muitos concidadãos da
pós-modernidade? Por detrás dos prazeres e do trabalho deve estar o sentido da
existência. Uma vida preenchida de sentido consegue transpor o vício do egoísmo
e a escravidão do dever. É preciso acordar do torpor da imobilidade: “já é hora
de despertar”.
A primeira leitura não revela algo vindo
de cima, não nos conduz ao sonho da espera do Céu. Sonhar na esperança do novo
é se comprometer com a construção deste novo. O sonho nos impele à mudança.
Aqui é bem vinda a poesia de Lothar Zenetti: “Pergunte a cem católicos: o que é
mais importante na Igreja? E eles responderão: a missa. Pergunte a cem
católicos: o que é mais importante na missa? E eles responderão a mutação do
pão e do vinho no corpo e sangue do Senhor! Diga então aos cem católicos que o
mais importante da Igreja é a mutação. Eles se enfurecerão: Não, tudo deve
ficar como está!”. E parece que muitos desejam a imobilidade com a desculpa de
estar sendo fiéis à Tradição. Que o diga o Papa Francisco...
“Já é hora de despertar (...)A Noite já vai
adiantada, o dia vem chegando...” Mais uma vez já é chegada a hora de um novo
ardor pela vida. “Vinde todos, deixemo-nos guiar pela do Senhor!”