Papa: um homem
de olhar penetrante
Quando falta a profecia, o
clericalismo ocupa o seu lugar, o rígido esquema da legalidade que fecha a
porta diante do homem. Daqui a oração para que, na perspectiva do Natal, se
sinta o espírito da profecia no meio do povo.
O Papa Francisco, na missa
celebrada na manhã de segunda-feira, 16 de Dezembro, na capela de Santa Marta,
quis recordar que ser profeta é uma vocação de todos os batizados. Fê-lo, como
de costume, inspirando-se na palavra de Deus da liturgia do dia. O Pontífice
repetiu as palavras do livro dos Números (24, 2-7.15-17b) que delineiam a
figura do profeta, «oráculo de Balaam, filho de Beor e oráculo do homem com
olhar penetrante; oráculo de quem ouviu as palavras de Deus». Eis – explicou –
«é este o profeta»: um homem «que tem o olhar penetrante e que escuta e
pronuncia as palavras de Deus; que sabe ver no momento e ir rumo ao futuro. Mas
antes escutou a palavra de Deus». De facto «o profeta tem três momentos dentro
de si». Antes de tudo «o passado: o profeta – disse o Santo Padre – está ciente
da promessa e tem no seu coração a promessa de Deus, mantém-na viva, recorda-a,
repete-a». Mas «depois observa o presente, o seu povo e sente a força do
espírito para dizer uma palavra que o ajude a erguer-se, a prosseguir o caminho
rumo ao futuro».
Portanto, continuou o Papa, «o
profeta é um homem de três tempos: promessa do passado, contemplação do
presente, coragem para indicar o caminho para o futuro». E recordou «o Senhor
sempre conservou o seu povo com os profetas nos momentos difíceis, nos quais o
povo se sentia desanimado ou abalado; quando o templo não existia; quando
Jerusalém estava sob o domínio dos inimigos; quando o povo se questionava no
seu íntimo; mas, Senhor, tu prometeste-nos isto e agora o que acontece?». A
este propósito acrescentou: «Talvez tenha acontecido o mesmo no coração de
Nossa Senhora, quando estava aos pés da cruz: Senhor, tu disseste-me que este
seria o libertador de Israel, o chefe, que nos daria a redenção; e agora?».
Acontecia o mesmo «no tempo de
Samuel, quando a palavra do Senhor era rara e as visões não eram frequentes. A
legalidade e a autoridade». E isto acontecia porque «quando no povo de Deus
falta a profecia, o vazio que deixa é ocupado pelo clericalismo. E exatamente
este clericalismo questiona Jesus: com que autoridade realizas estas coisas,
com que legalidade?». Assim «a memória da promessa e a esperança de ir em
frente reduzem-se unicamente ao presente: nem passado nem futuro nem
esperança». É como se para ir em frente valesse só o que é «presente», isto é «legal».
Certamente, explicou o Papa,
«talvez o povo de Deus que acreditava, que ia rezar no templo, chorava no seu
coração porque não encontrava o Senhor. Faltava a profecia. Chorava no seu
coração como Ana, a mãe de Samuel, chorava pedindo a fecundidade do povo». A
fecundidade, especificou o Pontífice, «que vem da força de Deus, quando ele
desperta em nós a memória da sua promessa e nos impele para o futuro com a
esperança. Este é o profeta. É o homem do olhar penetrante e que ouve as
palavras de Deus».
O Papa Francisco concluiu a sua
homilia propondo «uma oração nestes dias nos quais nos preparamos para o Natal
do Senhor». Uma oração ao Senhor a fim de que – invocou – «não faltem profetas
no teu povo. Todos nós, batizados, somos profetas. Senhor, não nos esqueçamos
da tua promessa; não cansemos de ir em frente; não nos limitemos às legalidades
que fecham as portas. Senhor, liberta o teu povo do espírito do clericalismo e
ajuda-o com o espírito da profecia».