“Toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para persuadir, para corrigir e formar na justiça” (2Tm 3,16).
Tradicionalmente, a Igreja Católica dedica o mês de setembro à Bíblia. Mas, o que é a Bíblia?
A Igreja define a Bíblia como o conjunto dos livros inspirados por DEUS. É a coleção de livros que narra tudo o que foi escrito sob a inspiração DIVINA. A palavra “Bíblia vem do termo grego biblos, por causa da cidade fenícia de Biblos, um importante centro produtor de rolos de papiro usados para fazer livros. Com o tempo, a palavra biblos passou a significar “livro”. Biblia é a forma plural “livros”. A Bíblia se divide em duas partes: Antigo e Novo Testamento. O Antigo Testamento conta a História da criação e do início da humanidade até Jesus. O Novo Testamento narra a vida de Jesus, seus ensinamentos e a história do início da Igreja. Os escritos bíblicos começaram a ser escritos em épocas anteriores a Moisés. Moisés foi o primeiro a codificar as tradições orais e escritas de Israel no ano 1.300 antes de Cristo. A essas Tradições (Leis, narrativas, peças litúrgicas) foram acrescentados outros escritos, no decorrer dos séculos.
O Antigo Testamento foi quase todo escrito em hebraico, em peles de cordeiros chamados pergaminhos. O Novo Testamento foi escrito em grego, também em pergaminhos. No primeiro século da Era Cristã, os livros cristãos (Cartas de São Paulo, Evangelhos, Cartas dos Apóstolos e Apocalipse) foram escritos como continuação dos livros sagrados dos Judeus. Os Judeus, porém, não aceitando Jesus como o Messias, também não aceitaram os Livros Cristãos, o Novo Testamento, aos Livros Sagrados deles, o Antigo Testamento. Por causa deste problema os rabinos judeus de Jerusalém se reuniram no Sínodo de JÂMNIA, ao sul da Palestina, no ano 100 depois de CRISTO, a fim de estabelecer os critérios que deveriam caracterizar os livros inspirados por DEUS. Foram definidos os seguintes critérios:
Primeiro: O Livro Sagrado não pode ter sido escrito fora da Terra Santa, Israel.
Segundo: Escrito somente em hebraico, não em língua aramaica ou grega ou outra língua estrangeira.
Terceiro: Escritos antes de Esdras.
Quarto: Sem contradição com a lei de Moisés
Esses critérios eram nacionalistas e não religiosos, fruto da volta do exílio da Babilônia em 537aC. Por esses critérios não foram aceitos na Bíblia judaica da Palestina os livros do Novo Testamento nem os livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Baruc, Eclesiástico (ou Sirácida), 1 e 2 Macabeus, além de Ester 10,4-16; Daniel 3,24-20; 13-14, que hoje também não constam na Bíblia protestante. Na cidade de Alexandria, no Egito, cerca de 200 anos antes de Cristo, já havia uma próspera colônia de Judeus que, vivendo em terras estrangeiras e falando a língua grega, não aceitou os critérios nacionalistas determinados pelos Judeus de Jâmnia. O rei do Egito, Ptolomeu, queria ter todos os livros conhecidos na famosa biblioteca de Alexandria; então mandou buscar 70 sábios judeus, rabinos, para traduzirem os Livros Sagrados hebraicos para o grego, entre os anos 250 e 100 a.C, antes do Sínodo de Jâmnia (100 d.C). Surgiu, assim, a versão grega chamada Alexandrina ou dos Setenta, que a Igreja Católica sempre seguiu. Esta tradução bíblica grega aceita os Livros que os Judeus de Jâmnia posteriormente rejeitaram. Os Evangelistas, ao escreverem o Novo Testamento em grego, citam o Antigo Testamento na edição “alexandrina”, escrito em grego que se tornou comum entre os cristãos; e portanto, o cânon completo, incluindo os sete livros e os fragmentos de Ester e Daniel, passaram para o uso dos cristãos. Das 350 citações do Antigo Testamento que há no Novo, 300 são tiradas da Versão dos Setenta, o que mostra o uso da Bíblia completa pelos Apóstolos. Verificamos também que nos livros do Novo Testamento há citações dos livros que os judeus nacionalistas da Palestina rejeitaram. Por exemplo: Rm 1,12-32 se refere a Sb 13,1-9; Rm 13,1 a Sb 6,3; Mt 27,43 a Sb 2, 13.18; Tg 1,19 a Eclo 5,11; Mt 11,29s a Eclo 51,23-30; Hb 11,34 a 2 Mac 6,18; 7,42; Ap 8,2 a Tb 12,15. Podemos comprovar estes fatos também em Mateus 12,3( que cita Isaías 7,14) e Hebreus 10,5(que cita o Salmo 40,7) É importante observar que estes escritos não fazem parte da Bíblia dos Judeus de Jerusalém-Jâmnia. Desta maneira, a Bíblia de “Alexandria” foi o Livro que os Evangelistas nos deixaram. Se acreditamos que os Apóstolos eram inspirados e guiados pelo ESPÍRITO SANTO, então devemos aceitar o Antigo Testamento de “Alexandria”. Este é o Antigo Testamento aceito pela Igreja Católica. Prevalece até hoje, na Igreja Católica, a consciência de que, os Livros Sagrados têm de ser os mesmos adotados pelos apóstolos.
Importantíssimo: até o ano de 1.500, a única Bíblia Cristã existente era a Bíblia Católica! Foi Martinho Lutero, um ex-sacerdote alemão, excomungado pela Igreja, que, ao criar a sua própria igreja, denominada de “Igreja Luterana”, adotou a cânon da Palestina, tomando a Bíblia Católica sem os SETE LIVROS citados anteriormente, que passou desde então a ser chamada de “bíblia protestante”. Aliás, a Bíblia que os Apóstolos e Evangelistas nos deixaram contém exatos 73 livros. Martinho Lutero, simplesmente tirou SETE LIVROS DA BÍBLIA CATÓLICA e “fez” assim a “ bíblia protestante”, contendo 66 Livros.
São Clemente de Roma, o quarto Papa da Igreja, no ano de 95 escreveu a Carta aos Coríntios, citando Judite, Sabedoria, fragmentos de Daniel, Tobias e Eclesiástico; livros rejeitados pelos protestantes. Da mesma forma, o conhecido Pastor de Hermas, no ano 140, faz amplo uso de Eclesiástico, e de Macabeus II; Santo Hipólito (†234), comenta o Livro de Daniel com os fragmentos deuterocanônicos rejeitados pelos protestantes, e cita como Sagrada Escritura Sabedoria, Baruc, Tobias, 1 e 2 Macabeus. Fica assim, muito claro, que a Sagrada Tradição da Igreja e o Sagrado Magistério sempre confirmaram os livros deuterocanônicos como inspirados pelo Espírito Santo. Vários Concílios confirmaram isto: os Concílios regionais de Hipona (ano 393); Cartago II (397), Cartago IV (419), Trulos (692). Principalmente os Concílios ecumênicos de Florença (1442), Trento (1546) e Vaticano I (1870) confirmaram a escolha.
O Papa São Dâmaso (366-384), no século IV, pediu a S.Jerônimo que fizesse uma revisão das muitas traduções latinas que havia da Bíblia, o que gerava certas confusões entre os cristãos. São Jerônimo revisou o texto grego do Novo Testamento e traduziu do hebraico o Antigo Testamento, dando origem ao texto latino chamado de Vulgata, usado até hoje.
Como a Bíblia por si mesma não define o seu cânon, isto é, não dá uma lista dos livros que são inspirados por Deus, é fidedigna a Tradição Apostólica que nos legou como inspirados os 73 livros que hoje compõem o cânon da Bíblia Católica.
Pe. Carlos Alberto Seixas de Aquino
Pároco da Paróquia N. Sra. de Fátima em Parnaíba